Os imigrantes transferidos para o país da América Central foram classificados como "terroristas" da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua. Porém, a versão oficial do governo Trump é questionada por famílias e advogados dos imigrantes que afirmam que eles estão sendo acusados injustamente com objetivo de permitir sua deportação.
Ao receber os recém deportados nesta segunda-feira, o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse que a Venezuela está pronta para receber todos imigrantes venezuelanos e exigiu que El Salvador devolva os imigrantes transferidos por Trump.
"Nós estamos prontos para receber os venezuelanos. Esse já é o quarto voo que vem dos EUA. Isso é um ato de regresso de venezuelanos que estão sendo perseguidos em território estadunidense e alguns estão sequestrados em El Salvador. Hoje exigimos que o governo de El Salvador nos devolva os venezuelanos", disse Cabello, acrescentando que o governo salvadorenho não tem respondido aos pedidos do governo de Caracas.
Um movimento em favor dos imigrantes transferidos para El Salvador cresceu na Venezuela durante a semana passada, com grandes protestos em Caracas. O presidente Nicolas Maduro recebeu os familiares desses imigrantes e prometeu repatriar essas pessoas que considera como "sequestradas".
Maduro disse que os venezuelanos estão sendo presos simplesmente por serem venezuelanos e comparou as medidas de Trump e Nayib Bukele, presidente de El Salvador, com os campos de concentração nazista.
"O objetivo é humilhar a nacionalidade venezuelana. É uma mensagem racista de desprezo. Estão sequestrados em campos de concentração nazi em El Salvador. Campos de concentração ao estilo de Hitler. Não cometeram nenhum delito, nem nos Estados Unidos, nem em El Salvador", comentou o presidente venezuelano, que prometeu recorrer a Comissão de Direitos Humanos da ONU.
Indagado sobre as denúncias de famílias venezuelanas de que os imigrantes deportados para El Salvador não tinham antecedentes criminais, o presidente Donald Trump afirmou que todos passaram por "rigoroso processo de investigação".
Em uma rede social, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, informou que os venezuelanos transferidos para o país ficarão inicialmente presos por um período de um ano, podendo esse prazo ser renovado. Além disso, informou que os EUA pagarão uma taxa por eles.
"Estamos ajudando nossos aliados, tornando nosso sistema prisional autossustentável e obtendo inteligência vital para tornar nosso país um lugar ainda mais seguro", comentou Bukele.
A crise entre Venezuela e EUA em relação aos imigrantes começou despois que o presidente Trump acusou o governo de Caracas de não receber os deportados venezuelanos no ritmo desejado pelos EUA. Em resposta, os EUA suspenderam a autorização para petroleira estadunidense Chevron atuar na Venezuela e prometeram maiores e crescentes sanções econômicas caso a Venezuela não recebesse os voos com deportados.
O caso ganhou ampla repercussão nos veículos de imprensa venezuelanos, que entrevistaram diversas famílias afetadas. Segundo os relatos, os imigrantes foram informados que regressariam à Venezuela sem saber que seriam levados ao Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot) de El Salvador.
A jovem Nayrobis Varga, irmã de um dos detidos, Henry Vargas, de 32 anos, informou que seu irmão viva nos EUA desde março de 2024 com a mulher e filha, quando foi detido em 29 de janeiro deste ano.
"Meu irmão é uma pessoa honrada e trabalhadora. Sua filha todo dia pergunta por ele, sua sobrinha todo dia pergunta por ele. Minha mãe está destroçada. Peço justiça poque nunca fizeram nenhum julgamento dizendo aonde iam trasladá-lo, não apresentaram nenhum delito contra ele", apelou sua irmã em entrevista ao canal venezuelano VTV.
Para deportar os imigrantes venezuelanos, o presidente Donald Trump recorreu à Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, usada apenas em momentos de guerra. A decisão foi derrubada pelo juiz federal James Boasberg, que considerou "problemática" o uso dessa lei para deportação de imigrantes sem direito à defesa.
Porém, a decisão não impediu a deportação dos 238 venezuelanos para El Salvador e agora as autoridades investigam se Trump descumpriu uma decisão judicial. Em resposta, o presidente estadunidense pediu o impeachment do juiz Boasberg.
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A mega-prisão de El Salvador que recebeu os imigrantes venezuelanos é conhecida pelas duras condições de confinamento. Organizações de direitos humanos acusam o governo de El Salvador de violar sistematicamente os direitos dos presos, que não tem acesso a advogados ou aos familiares e que seriam submetidos a torturas.
A Human Rights Watch disse que não tem conhecimento de algum detido que tenha sido libertado da Cecot que teria capacidade de abrigar 40 mil presos, considerada a maior prisão da América Latina.
"As condições prisionais em El Salvador devem ser entendidas dentro do contexto do estado de emergência de três anos do país, que suspendeu os direitos constitucionais ao devido processo legal", alerta a organização internacional de direitos humanos.
Fonte: Agência Brasil