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Convergência entre mulheres pode levar a fortalecimento de direitos

A pesquisa Mulheres em Diálogo, divulgada nesta segunda-feira (24), mostra que, independentemente de orientação política e classe social, 94% das mulheres defendem igualdade salarial, 77% apontam segurança como prioridade e 72% apoiam maior representatividade feminina na política.

Por Mais ES em 24/03/2025 às 18:15:07
Foto: Agência Brasil - EBC

Foto: Agência Brasil - EBC

A pesquisa Mulheres em Diálogo, divulgada nesta segunda-feira (24), mostra que, independentemente de orientação política e classe social, 94% das mulheres defendem igualdade salarial, 77% apontam segurança como prioridade e 72% apoiam maior representatividade feminina na política. No entanto, o levantamento evidencia desafios em pautas como descriminalização do aborto e influência religiosa na política.

Os resultados da pesquisa indicam que, mesmo em um contexto de fraturas sociais, há temas que aproximam mulheres de diferentes perfis, criando oportunidades para construir diálogos produtivos, afirma Carolina Althaller, diretora executiva do Instituto Update, responsável pelo levantamento. Para a etapa quantitativa, foram feitas entrevistas com 668 mulheres, residentes em todas as regiões do país. A etapa qualitativa incluiu 30 mulheres em grupos focais.

"Questões como igualdade salarial e segurança refletem preocupações universais entre as mulheres brasileiras e podem ser a base para ações que promovam avanços nos direitos das mulheres", diz Carolina. O combate à violência de gênero também é uma questão comum aos diferentes perfis de mulheres, sendo apontado por 71% das entrevistadas quando questionadas sobre três dos principais temas para a mulher brasileira atualmente.

A cientista política Camila Rocha, uma das pesquisadoras, explica que o estudo partiu de um diagnóstico de que seria possível as mulheres brasileiras avançarem mais se aquelas que estão na política hoje se unissem em torno de objetivos comuns.

"Muitas vezes, a gente pensa no que divide as mulheres, no que as mulheres têm uma discordância maior, e eu estou falando principalmente na pauta da legalização do aborto no Brasil. E, às vezes, a gente deixa de lado pensar que, na verdade, tem muitas outras concordâncias em vários temas", relatou a cientista política.

A pesquisa revela que até mesmo as que não se identificam como feministas reconhecem a importância dessas pautas e apoiam iniciativas que melhorem a vida das mulheres. Segundo o estudo, porque 48% das entrevistadas consideram-se feministas, 43% não se consideram feministas e 8% não souberam responder.

De acordo com a pesquisa, a resistência ao termo feminismo pode estar ligada a associações com movimentos políticos pontuais, que conflitam com valores conservadores, ou até à falta de entendimento sobre o que o termo realmente significa. No entanto, uma das conclusões é que essa rejeição ao termo não anula as possibilidades de encontrar solidariedade em causas de interesse comum.

Feministas na política

Carolina destaca que, no Brasil, o avanço da extrema-direita e do fundamentalismo religioso contribui para a inviabilidade do diálogo entre mulheres de diferentes perfis e na construção de pautas em comum. No entanto, é preciso destacar o trabalho que o movimento feminista tem feito nos últimos anos, afirma.

"Temos 90 mulheres, no total de 513 deputados – é a maior bancada de mulheres da história. Não temos uma democracia verdadeiramente representativa, em que todos os grupos têm oportunidade de representação igual, mas também percebemos essa ocupação feminista do poder acelerando na América Latina."

A inovação política e a inovação social acontecem quando grupos historicamente marginalizados, como mulheres e populações negra, LGBT e indígena entram na atividade política, enfatiza Carolina.

"Aqui no Brasil, desde o [primeiro mandato do] Lula, a gente vê esse processo de institucionalização do movimento feminista, e aí a promulgação da Lei Maria da Penha, em 2006, e a criação de equipamentos públicos e políticas específicas para efetivá-la", ressalta.

A cientista política Camila Rocha pondera que, mesmo com o avanço da ideia de que as mulheres precisam estar mais representadas na política e de que existe machismo no Brasil, ainda há pouca representação das mulheres no Parlamento do país. "O estudo começa justamente nos anos da redemocratização, falando desse momento em que as mulheres que estavam na política naquela época conseguiram se unir e conseguiram vários direitos importantes para as mulheres", lembrou.

Desafios

Embora tenha identificado consensos relevantes na busca por direitos, o estudo mostrou que há desafios em pautas como descriminalização do aborto, que teve rejeição de 75% das entrevistadas. No entanto, a maioria (72%) também rejeita a prisão de mulheres que fazem abortos fora das situações permitidas pela lei.

A pesquisadora pondera ainda que, quando há um aprofundamento ou apresentação de contexto na entrevista, as mulheres podem ter outro posicionamento sobre um mesmo tema. O fato de o aborto ser criminalizado, ressalta Camila, também pode induzir ao entendimento de que essa é uma prática errada, já que é um crime.

"Quando você começa a falar de casos reais, mostra imagens de mulheres que tentaram, precisaram fazer aborto, e não conseguiram acesso, você vê que as mulheres, inclusive que eram contrárias inicialmente, se sensibilizam muito mais e tem muito mais abertura para falar do assunto e elas eventualmente até mudam de opinião. Então eu acho que tem uma coisa do plano abstrato e tem a dimensão prática", disse.

Sobre a influência religiosa na política, 53% defendem que valores religiosos devem guiar decisões políticas e 43% acreditam que não.

Para o Instituto Update, essa divisão representa um fator-chave na definição de votos e na percepção de políticas públicas voltadas para mulheres no Brasil. Para a diretora do instituto, Carolina Althaller, a pesquisa oferece oportunidade para diálogos e construção de soluções que representem a diversidade de experiências das mulheres no país.

Fonte: Agência Brasil

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